Resposta às objeções sedevacantistas: aceitação universal

Olá senhoras e senhores, eu sou Arlan, e hoje eu venho tratar de diversas objeções contra a aceitação universal, objeções estas que foram levantadas pelo sr.Diogo Rafael Moreira do site (e canal no YouTube) controvérsia católica.

Já adianto que não tratarei hoje sobre a liberdade religiosa, mas especificamente sobre a aceitação universal. Tratarei disso, certamente, num futuro não muito distante, mas Se o sr.Diogo acredita que para que ele aceite o Concílio Vaticano II, antes eu precise provar que cada doutrina do Concílio é plenamente católica, provavelmente eu não teria mais espaço para tratar da aceitação universal, portanto vamos tentar nos manter em um tema.

Objeção: A rejeição de um ou mais bispos a um Papa, seria, de acordo com o argumento apresentado [pelo site Archidiacre], a prova de que aquele Papa pode não ser legítimo.

O senhor Diogo diz que para o site Archidiacre a aceitação universal é um caso obrigatório para que um Papa seja, sem sombra de dúvidas, legítimo. Mas a grande questão é que esse não é o verdadeiro argumento. Eu já exclareci antes qual é certamente o centro da argumentação apresentada, mas vou tentar deixar ainda mais evidente, usando de um sistema que me foi dado por um dos escritores dos artigos do Archidiacre contra o sedevacantismo:

A legitimidade de João XXIII e Paulo VI foi universalmente aceita ==> nenhum bispo católico governou os sedevacantistas antes de 1981==> Leão XIII diz em sua Encíclica Eximia nos laetitia que isso prova que eles não são católicos ==> Assim, Paulo VI deve ser o verdadeiro papa (pois seria absurdo acreditar que todos os bispos pudessem se equivocar)

Eis o que afirma Leão XIII:

«Absolutamente nenhum bispo os considera e os governa como suas ovelhas. Eles devem concluir disso, com certeza e evidência, que são desertores do rebanho de Cristo» (Papa Leão XIII — Encíclica Eximia nos Laetitia, de 19 de julho de 1893)

O Cardeal Pie (1895) é muito claro ao tratar do assunto:

«Agora, você rejeita o papa e diz que desde o início deste século a Sé Apostólica não foi ocupada por nenhum sucessor legítimo do príncipe dos apóstolos. [...] Na falta do papa, você pelo menos tem bispos para governá-lo? Não; por muito tempo você não teve nenhum bispo em sua comunhão. [...] Todos os outros bispos que a princípio recusaram sua renúncia finalmente abriram os olhos para a luz; e aquele que se mostrou o mais obstinado de todos, o bispo de Blois, morreu no seio da Igreja Romana, depois de retratar seus erros e pedir a absolvição das penalidades incorridas por sua resistência. Então, por sua própria admissão, você não tem episcopado. Então, vamos dizer novamente, você não faz parte de uma assembléia cristã, uma vez que na Igreja de Jesus Cristo é preciso haver um bispo para que haja uma Igreja» (Cardeal Pie, Primeira carta pastoral aos dissidentes da "igrejinha", por ocasião do jubileu de meio século, 1851)

Não dizemos nem que se um ou alguns bispos negarem a legitimidade de um Papa, ele é um Papa suspeito de ilegitimidade, nem dizemos que é impossível que alguns bispos se separem da fé autêntica; mas dizemos que um Papa cuja legitimidade é aceita por todos os Bispos, certamente é legitimo (sem que sua legitimidade dependa dessa aceitação)

Objeção: A base para a doutrina da aceitação universal é que o Papa é a regra de fé, e a adesão da Igreja a um falso Papa, seria aderir a uma falsa regra de fé, logo é preciso provar que as doutrinas ensinadas por Paulo VI foram aceitas por todos os bispos como regra de fé.

Este argumento também não é novidade. para que possamos interpretar corretamente a doutrina da aceitação universal, eu trago aqui a autoridade da definição do Papa Martinho V:

«Da mesma forma, se ele acredita que o papa eleito canonicamente, que do momento, após a proclamação de seu próprio nome, é o sucessor do bem-aventurado Pedro, tendo a autoridade suprema na Igreja de Deus.» (Inter Cunctas, Concílio de Constança)

Agora vamos tratar de uma interpretação legítima desta definição, com base no canonista Lucius ferraris, falecido em 1763 (que para o assunto, é um dos (ou o) mais importante dos intérpretes desta definição.

«É de fé que Bento XIV, por exemplo, legitimamente eleito e aceito como tal pela Igreja, é o verdadeiro Papa (doutrina comum entre os católicos). Isso é comprovado pelo Concílio de Constança, com os decretos da Constituição Inter Cunctas, decretando que aqueles que retornam da heresia à fé devem ser requeridos, entre outras coisas: "se eles acreditam que o papa eleito canonicamente, que é o único do momento, depois da proclamação do seu próprio nome é o sucessor do bem-aventurado Pedro, tendo a suprema autoridade na Igreja de Deus”. [...] Pelo simples fato de que a Igreja o reconhece como legitimamente eleito, Deus nos revela a legitimidade de sua eleição (quoque est certa, quia eo ipso quod Ecclesia ipsum recepit ut legitima electum, revelat Deus ipsius electionem esse legitimam), tendo Cristo prometido que Sua Igreja nunca afundaria em questões de fé; mas seria errado em tal questão se esse princípio fosse falso, pois a Igreja, ao reconhecer o eleito como o verdadeiro papa, o reconhece como uma regra de fé infalível» (Padre Ferraris, Louis, Prompta Bibliotheca Canonica Iuridica Moralis Theologica, vol. VI(Romae: SC De Propaganda Fide, 1764) artigo Papa, nos. 67-71, p. 53). Reedição 1890. Reimprimatur: P. Raphaël Pierotti, OP; Júlio Lenti, Patriarca de Constantinopla)


Vocês podem ver claramente que a aceitação de um Papa se dá por meio da aceitação da eleição, não das doutrinas impostas pelo Papa. Mas se alguém alegar que o Padre Ferraris não é autoridade suficiente (ideia que seria bastante difícil de sustentar) ainda temos a autoridade de João de São Tomás (que apesar de muitos sedevacatistas não gostarem dele quando o assunto é falar sobre um Papa herético, não conheço ninguém que descarte completamente a autoridade dele), também o padre Antônio Arbiol OFM (1702), também o Padre Sydney Smith, SJ (1895). Todos eles corroboram que a aceitação universal se dá por meio da aceitação da eleição. Também tantos destes afirmaram que a doutrina da aceitação universal é uma questão de fé.

O cardeal Journet repete exatamente o que diz Jõao de São Tomás sobre o assunto:

«A aceitação da Igreja ocorre ou negativamente, quando a eleição não é imediatamente contestada; ou positivamente, quando a eleição é aceita primeiramente pelos presentes e gradativamente pelos demais.» (Cardeal Journet, A Igreja do Verbo Encarnado ( 1955 ), pp. 977-978)

A ideia difundida entre os sedevacantistas que confunde o fundamento da doutrina com a forma pela qual o Pontífice é aceito, é uma inovação.

Objeção: A Bula Com Ex Apostolatus Officio derruba a aceitação universal.

Os sedevacantistas exploram a bula Cum Ex Apostolatus Officio do Papa Paulo IV para alegar que um antipapa herético poderia ser aceito por toda a Igreja sem problemas, citando o parágrafo 6 da Bula.

A doutrina da Aceitação Pacífica Universal não é inconsistente com um falso papa sendo eleito e aceito como papa legítimo por todos os cardeais. De fato, é a aceitação dos bispos que garante a certeza infalível da legitimidade dos eleitos. Muitos sedevacantistas usam a passagem “não se pode dizer que se tornou válida […] pela adesão diante dele ou pela obediência a ele por todos”. Aqui, o “por todos” não diz respeito a todos os bispos nem a toda a Igreja universal, mas apenas aos Cardeais, aos quais se fez referência pouco antes.


De fato, o termo latino usado pela bula para significar adesão, designa o rito de adesão dos cardeais ao Papa recém-eleito, seguido de um juramento de fidelidade e obediência. 

Finalmente, Petri Mariae Passerini, vigário geral dos dominicanos e eminente teólogo e canonista, afirma em sua obra Tractatus de electione summi pontificis , página 164 ponto 28 que trata da eleição do Soberano Pontífice, que as palavras "a prestação de obediência aos a ele por todos” não dizem respeito a toda a Igreja, mas referem-se apenas à cerimônia de obediência dos cardeais. Ele ainda acrescenta que, após a Aceitação Pacífica Universal, o Papa não pode mais ser acusado de crimes cometidos antes de seu pontificado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Refutando calúnias e provando a ortodoxia do Papa Francisco

Refutação ao sedevacantismo — Paulo VI, Papa universalmente aceito

Os anjos